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Posts Tagged ‘rio vermelho’

Há treze dias estou em Salvador, minha amada capital da província da Bahia onde este ano passo minhas férias mais longas desde que voltei a morar no Rio de Janeiro.

A recepção dos amigos ao longo de três dias me acolhendo com carinho e festa desembocou na doce e reveladora festa de Janaina, coroada com a presença de familiares que há muito não encontrava.

Entre recepção de amigos e reencontro com familiares, os pronunciamentos foram unânimes sobre a condição de Salvador: a cidade está devastada. O que vi com os próprios olhos: ausência de iluminação, transporte coletivo precário, metro inacabado, ruas cheias de buracos, praças, ruas, avenidas sujas, privatização de espaços públicos para carnaval, para flanelinhas, para empresas de estacionamento, usuários de drogas entregues à própria sorte, desemprego, saúde e educação precarizadas, e a segurança pública, a beira de um colapso, o que se concretizou na virada entre 01 e 02 de fevereiro.

Deflagrado o movimento grevista dos policiais e bombeiros, os ladrões “pés de chinelo” de plantão saíram em busca das oportunidades, e numa destas a esposa de um amigo é furtada antes de chegar a festa da Rainha do Mar.  Um número. Pais e mães atentos e exageradamente zelosos ligam para avisar os filhos que honram Iemanjá, acerca dos arrastões e saques generalizados na noite e madrugada. A tensão toma conta de todos. Mas ainda há policiamento nos focos festivos do Rio Vermelho. O que não se pode dizer de outras tantas áreas da cidade: Liberdade, Itapoã, Ilha de Itaparica, Lobato, Itapagipe, Pituaçu.

Pouco, ou muito pouco, pedem os praças para sí. São trabalhadores como tantos outros, de um setor precarizado na prática, e cobrado como agentes de instituições dinamarquesas. Não são efetivamente santos, e possuem uma distinção considerável em relação a um professor, um gari, um médico, um agrigultor. São herdeiros históricos, no nosso Brasil, do que se convencionou chamar de milícias e capitães do mato, são descendentes diretos das ditaduras de Vargas e dos Generais, que tanto perseguiram, torturaram, assassinaram outros concidadãos em conluio com as forças armadas que agora os reprimem nos umbrais do legislativo baiano.

Bem, então hoje fui a Catu, cidade da região metropolitana de Salvador, onde tive meus melhores dias como docente. Uma simples questão bancária me levou até lá, e para minha surpresa, a polícia militar está em greve, surpresa sim, pois o Secretário de Segurança e a Casa Civil da Bahia negam a adesão em massa ao movimento grevista. O que em leituras de jornais da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, mais notícias de amigos, já chegou a: Feira de Santana, segunda maior cidade do estado, Conquista, Itabuna, Paulo Afonso, cidades de porte médio. Voltei então para Salvador, pois o banco estava fechado por falta de segurança, há, o clima na cidade era tenso, as pessoas caminhavam rapidamente tocando seus afazeres intentando logo estarem “seguras”.

Em Salvador, rodoviária no clima de sempre, com exceção de militares do exército e policiais militares que se misturavam ao frenético ir vir dos milhares de viajantes. Na passarela, o andar dos transeuntes era apressado e com pouca ou nenhuma conversa, nas plataformas de ônibus e na frente ao shoping, mais militares do exército e também um caminhão militar que trazia a troca da guarda. Isso, a guarda que nos protege de nossos concidadãos “bandidos, sequestradores, assassinos, maníacos”. Outra vez mais, na história do povo baiano e brasileiro, a questão social é tratada como questão policial.

Exceto por um detalhe, o parágrafo acima poderia prescindir deste que segue. A Bahia é governada pelo Partido dos Trabalhadores. Esperava-se não apenas pelo histórico do partido, mas de seus integrantes eleitos, inclusive o governador, mais assessores, uma tomada de posição que afirmasse a cidadania e a justiça social pautada na escuta de uma greve legítima, e que por princípio, é direito de todos trabalhadores.

Mas não, longe do seu povo, nas camarilhas do poder, é vedado o diálogo com grevistas da PMBa, paralelo, negociam um injusto acordo repressivo: poder federal, estadual e municipal, convocam as forças armadas e a força nacional de segurança. Desta feita, o Partido dos Trabalhadores e as forças conservadoras a ele aliadas, repete o método há séculos aplicado no período colonial, imperial, republicano, ditatorial (aqui com requintes de perversão).

Incluo nas reflexões a posição que o povo brasileiro e baiano estão tomando. Nós somos nossos verdadeiros defensores, nós somos nossa segurança, nós somos nossa justiça. Calar, trancar-se em casa, ir ao shoping assistir um filminho e jantar aquele macarrão de 15 conto, não vai ajudar a este povo, esta nação se tornar mais livre e independente de uma organização injusta e autodestrutiva.

Então, não há dignidade em empunhar armas contra seu povo, contudo, isto há muito é feito para reprimir greves de vários setores como de professores ou de petroleiros. Não há justiça em impedir o direito de ir vir de uma população de trabalhadores pobres e precarizados, tanto quanto os PMsBa. Não há fraternidade em se criar falsas dicotomias entre bem e mal que tornam a greve, a questão social, uma operação de guerra.

A sociedade avança, os trabalhadores avançam, os sindicatos avançam, pois sempre mudam, a contradição vivida por estes policias, pela classe média, pelo governo…, precisa chegar a um termo. De outra maneira teremos o indesejável. Ou alguém realmente acredita que está em curso uma revolta ou revolução? Talvez uma ginástica sócio-político-educativa para todos, indicando os lugares a que todos neste momento da primeira década do segundo milênio se encontram. O que nos ajudaria sim a encontrar rumos melhores pra nossas vidas miseráveis de pobres compradores de queijo, dentaduras e rapidinhas em motéis baratos.

Acredito que só a liberdade é o princípio em que a justiça e a razão podem ser assentadas para efetivamente o trabalhador, policial e outros tantos conquistem seus direitos e criaem outros tantos. Repito: a questão social não é uma questão policial, quanto mais, uma questão de guerra.

Ps.: A título de proposta, sugiro encher a caixa de emails do responsáveis políticos por esta situação exigindo urgentemente a abertura de negociações, anistia relativa aos grevistas, contemplação da pauta básica do movimento com relação a melhores condiçoes de trabalho, e aceitação das exigências salarais prementes na pauta de greve.

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