Estimado amigo fidalgo, seguimos estrada cheia de curvas, estreita, esburacada, cheia de carros indo e vindo, por vezes só hávia como seguir pelo acostamento, este em melhor estado que a estrada.
Uma mosca entra no carro, Ela reclamando batia ao vento gritando palavrôes contra a mosca e seu inerte amigo ao lado. Então eu jogo os computadores para o lado do carona, passo para trás dela, e rápido levanto seus longos cabelos incendiários, chego mais perto, encaixo as pernas por trás do banco, colo a boca no seu pescoço longo com cheiro de pitanga, xero e beijo até sua orelha direita e murmuro: gostosa. Minha mão esquerda já tateava entre suas cochas morenas do sol e a calcinha molhada de gozo. Ela já me segurava pelo pau, o carro andava em zig-zag. Então acordei, gritei, cuidado, saltei e tomei o volante com uma das mão, e aí cai em mim, por pouco não caímos por uma ribanceira. A mosca tina sumido e nós…, bem, estimado Dom Alonso, já pensou eu morrer por uma mosca?
Veloz, o carro segue, alcançamos então plantações de milho às duas margens da estrada. Estas plantações verdes se perdiam no horizonte junto com o firmamento azul do céu.
Até aqui o homem que viajava na frente do carro ao lado desta… mulher, emitia múrmurios e ruídos como que considerando, negando, confirmando as negativas e afirmativas dela. Quano falava algo tinha o desprezo e desapego típicos de quem realmente tem mais interesses e medos que realmente demonstra com palavras. Havia um certo medo e interesse em seus olhos e na sua total confiança fabricada na razão e no controle do corpo. Sua companheira, em toda frase o deixava em alerta, ele temia alguma incofidência? Seriam assassinos, ladrões, pirados. E agora, eu? Confesso que senti medo e até pensei em pedir para me deixarem ir, mas…
De repente uma freada, todos são lançados à frente. Paramos. Violeta ri e brada que as meias palavras esquivas de Falzino lhe machucam demasiadamente, que eu não sou nada engraçado e que nem meu nome sabem ainda. Abre a porta e corre milharal a dentro, seu corpo salta e seus longos cabelos ruivos se misturam com o verde milharal, para onde ela corre de saia levantada até o decote farto, e começa a colher as espigas mais vistosas que se misturam com seus seios jovens. Seu amigo, acompanhante, amante ou outra coisa que o valha, balança a cabeça, balbucia letras, palavras, frases incompreensíveis misturadas a ruídos.
Então aproveito e apeio do carro pra mergulhar no… – Meu nome é Falzino e o nome dela é Violeta, vive tendo estes rompantes, deixa se levar por sentimentos e desejos sem pensar em consequências. Saio a caminhar também no meio do milhará.
Miro a Chapada à nossa frente. Violeta se agacha e ouço o som de uma mulher a mijar. Não sei porque isto me seduz e me excita. Esta mulher, no mato a mijar, no seu jeito natural , longe de ser vulgar e tão pouca indiscreta, me atrai ainda mais. Falzino permanece no carro murmurando ruídos breves e com gestos longos. Não havia percebido, ao longe, além dos vales de águas vermelhas se viam as fronteiras dos Reinos da Tarde e do Por do Sol demarcadas pelo Morro Branco, bem além das cachoeiras da Purificação. Os dois reinos convivem um ao lado do outro em longos momentos de paz com curtos e trágicos momentos de guerra.
Distante do carro uma música atávica me invade, é um flamenco árabe que outrora cobriu com paixão e dança toda Europa ibérica. Para Flauzino apenas uma múasica qualquer encontrada no rádio. Ao longe, Violeta, de pé e desnuda, gesticulava como que regesse a música e a mim mesmo. Longe do tesão inicial e da paixão pela mulher natural, agora eu penso que fui encantado. Sua pele alva, seus cabelos incendiários ao balanço do vento me levaram diretamene aos seus braços.
E ela já cavalgava sobre mim segurando em meus cabelos cacheados e me mordendo a barba sem dizer palavra enquanto o ar se tornava rarefeito e nossos corpos ondulavam estremecidos em sincronia e suor. Esquecidos os reinos da Tarde e do Por do Sol. Gemidos eram a música, e ela então subia e descia num trote lento e sinuoso sobre mim que tentava estocar ela como que saltando da terra ao ar.
Tremuras, alívio, silêncio. Sem a terra vermelha para nos acolher teríamos caído para sempre no universo de gozo. Uma buzina de automóvel ecoa no silêncio. Rimos.
Voltamos ao carro sem dizer palavra.
Falzino: onde estão as espigas para o jantar.
Violeta: risos. pode ir buscar.
Flauzino: teremos que ficar ainda mais tempo neste meio de nada próximo de lugar algum?
Violeta: como você se chama mesmo?
Eu: Estevão.
Violeta: agora podemos seguir viagem, entrem no carro. Já escurece, precisamos ir. Onde está indo Estevão?
Eu: para os reinos da Tarde e do Por do Sol. Sinto que um dia os atravessarei, mas hoje não mais. O coração pede para seguir direto ao reino dos Sonhos. Lá pretendo ficar uns tempos.
Falzino: este reino está em ruinas, atacado por uma aliança dos outros seis grandes reinos: Noite, Madrugada, Alvorecer, Manhã, Tarde, Por do Sol. Seu povo já não ama mais a vida e lhes faltam motivos para viver. Viajantes desviam léguas para não vê-lo sendo distruído.
Violeta: até que enfim Falzino diz algo útil e sem subterfúgios.
Falzino: só quero salvar minha pele, pois sei que você teria ousadia de o levar até as ruindas do reino dos Sonhos. Assim evito o infausto.
Eu: então não tenho mais onde ir, penso que vou mesmo para o reino dos Sonhos e ajudo a seu povo na luta contra a tirania dos outros seis reinos.
Violeta: NÃO FAÇA ISSO Estevão. Nos acompanhe, pois num território livre, distante do alcance de todos os exércitos conquistadores se reunem povos descontentes que buscam liberdade para todos os reinos e acabar com a guerra contra o reino dos Sonhos.
Falzino: lá vem você mulher, com esta loucura de território do Amor, isto é mito, falácia de malucos estradeiros. Não existe tal resistência, não existe tal território livre, não existe…
Eu: Agradecido, parto agora só, vou em busca do território livre, somar forças por uma vida, um mundo livre. Vou a esta terra desconhecida que chamam Amor, se não existir, será boa a viagem. Adeus.
Amigo, então os dois ficaram a discutir e eu segui na minha caminhada carregando meu alforje com os comes e bebes do Vendeiro da Birosca. E como deve ter entendido, te escrevo de algum lugar da trilha do lugar desconhecido que muitos falam e que organiza a resistência. Até um dia amigo Alonso, estimado Dom Quixote de L Mancha.
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