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Archive for julho \31\+00:00 2012

Ulisses

Pancadas das pisadas criando trilhas vermelhas nas caminhadas de onde se enxerga somente a bata azul.

A ousadia de andar pelo desconhecido com calça branca, até as profundezas dos buracos da antimatéria.

E no arrebol terrestre é parido do ventre insano da Razão os dois filhos do seu amante Delírio: Medo e Amor.

Os Estados sempre quiseram matá-los.

As grandes corporações ainda não conseguiram lucrar com eles.

Segue a humanidade como deuses, titãs, mitos a fugir de ambos.

Medo e Amor.

 

Victor Macunaíma

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Estimado amigo fidalgo, seguimos estrada cheia de curvas, estreita, esburacada, cheia de carros indo e vindo, por vezes só hávia como seguir pelo acostamento, este em melhor estado que a estrada.

Uma mosca entra no carro, Ela reclamando batia ao vento gritando palavrôes contra a mosca e seu inerte amigo ao lado. Então eu jogo os computadores para o lado do carona, passo para trás dela, e rápido levanto seus longos cabelos incendiários, chego mais perto, encaixo as pernas por trás do banco, colo a boca no seu pescoço longo com cheiro de pitanga, xero e beijo até sua orelha direita e murmuro: gostosa. Minha mão esquerda já tateava entre suas cochas morenas do sol e a calcinha molhada de gozo. Ela já me segurava pelo pau, o carro andava em zig-zag. Então acordei, gritei, cuidado, saltei e tomei o volante com uma das mão, e aí cai em mim, por pouco não caímos por uma ribanceira.  A mosca tina sumido e nós…, bem, estimado Dom Alonso, já pensou eu morrer por uma mosca?

Veloz, o carro segue, alcançamos então plantações de milho às duas margens da estrada. Estas plantações verdes se perdiam no horizonte junto com o firmamento azul do céu.

Até aqui o homem que viajava na frente do carro ao lado desta… mulher, emitia múrmurios e ruídos como que considerando, negando, confirmando as negativas e afirmativas dela. Quano falava algo tinha o desprezo e desapego típicos de quem realmente tem mais interesses e medos que realmente demonstra com palavras. Havia um certo medo e interesse em seus olhos e na sua total confiança fabricada na razão e no controle do corpo. Sua companheira, em toda frase o deixava em alerta, ele temia alguma incofidência? Seriam assassinos, ladrões, pirados. E agora, eu? Confesso que senti medo e até pensei em pedir para me deixarem ir, mas…

De repente uma freada, todos são  lançados à frente. Paramos. Violeta ri e brada que  as meias palavras esquivas de Falzino lhe machucam demasiadamente, que eu não sou nada engraçado e que nem meu nome sabem ainda. Abre a porta e corre milharal a dentro,  seu corpo salta e seus longos cabelos ruivos se misturam com o verde milharal, para onde ela corre de saia levantada até o decote farto, e começa a colher as espigas mais vistosas que se misturam com seus seios jovens. Seu amigo, acompanhante, amante ou outra coisa que o valha, balança a cabeça, balbucia letras, palavras, frases incompreensíveis misturadas a ruídos.

Então aproveito e apeio do carro pra mergulhar no…  –  Meu nome é Falzino e o nome dela é Violeta, vive tendo estes rompantes, deixa se levar por sentimentos e desejos sem pensar em consequências. Saio a caminhar também no meio do milhará.

Miro a Chapada à nossa frente. Violeta se agacha e ouço o som de uma mulher a mijar. Não sei porque isto me seduz e me excita. Esta mulher, no mato a mijar, no seu jeito natural , longe de ser vulgar e tão pouca indiscreta, me atrai ainda mais. Falzino permanece no carro murmurando ruídos breves e com gestos longos. Não havia percebido, ao longe, além dos vales de águas vermelhas se viam as fronteiras dos Reinos da Tarde e do Por do Sol demarcadas pelo Morro Branco, bem além das cachoeiras da Purificação. Os dois reinos convivem um ao lado do outro em longos momentos de paz com curtos e trágicos momentos de guerra.

Distante do carro uma música atávica me invade, é um flamenco árabe que outrora cobriu com paixão e dança toda Europa ibérica. Para Flauzino apenas uma múasica qualquer encontrada no rádio. Ao longe, Violeta, de pé e desnuda, gesticulava como que regesse a música e a mim mesmo. Longe do tesão inicial e da paixão pela mulher natural, agora eu penso que fui encantado. Sua pele alva, seus cabelos incendiários ao balanço do vento  me levaram diretamene aos seus braços.

E ela já cavalgava sobre mim segurando em meus cabelos cacheados e me mordendo a barba sem dizer palavra enquanto o ar se tornava rarefeito e nossos corpos ondulavam estremecidos em sincronia e suor. Esquecidos os reinos da Tarde e do Por do Sol. Gemidos eram a música, e ela então subia e descia num trote lento e sinuoso sobre mim que tentava estocar ela como que saltando da terra ao ar.
Tremuras, alívio, silêncio. Sem a terra vermelha para nos acolher teríamos caído para sempre no universo de gozo. Uma buzina de automóvel ecoa no silêncio. Rimos.

Voltamos ao carro sem dizer palavra.

Falzino: onde estão as espigas para o jantar.

Violeta: risos. pode ir buscar.

Flauzino: teremos que ficar ainda mais tempo neste meio de nada próximo de lugar algum?

Violeta: como você se chama mesmo?

Eu: Estevão.

Violeta: agora podemos seguir viagem, entrem no carro. Já escurece, precisamos ir.  Onde está indo Estevão?

Eu: para os reinos da Tarde e do Por do Sol. Sinto que um dia os atravessarei, mas hoje não mais. O coração pede para seguir direto ao reino dos Sonhos. Lá pretendo ficar uns tempos.

Falzino: este reino está em ruinas, atacado por uma aliança dos outros seis grandes reinos: Noite, Madrugada, Alvorecer, Manhã, Tarde, Por do Sol. Seu povo já não ama mais a vida e lhes faltam motivos para viver. Viajantes desviam léguas para não vê-lo sendo distruído.

Violeta: até que enfim Falzino diz algo útil e sem subterfúgios.

Falzino: só quero salvar minha pele, pois sei que você teria ousadia de o levar até as ruindas do reino dos Sonhos. Assim evito o infausto.

Eu: então não tenho mais onde ir, penso que vou mesmo para o reino dos Sonhos e ajudo a seu povo na luta contra a tirania dos outros seis reinos.

Violeta: NÃO FAÇA ISSO Estevão. Nos acompanhe, pois num território livre, distante do alcance de todos os exércitos conquistadores se reunem povos descontentes que buscam liberdade para todos os reinos e acabar com a guerra contra o reino dos Sonhos.

Falzino: lá vem você mulher, com esta loucura de território do Amor, isto é mito, falácia de malucos estradeiros. Não existe tal resistência, não existe tal território livre, não existe…

Eu: Agradecido, parto agora só, vou em busca do território livre, somar forças por uma vida, um mundo livre. Vou a esta terra desconhecida que chamam Amor, se não existir, será boa a viagem. Adeus.

Amigo, então os dois ficaram a discutir e eu segui na minha caminhada carregando meu alforje com os comes e bebes do Vendeiro da Birosca. E como deve ter entendido, te escrevo de algum lugar da trilha do lugar desconhecido que muitos falam e que organiza a resistência. Até um dia amigo Alonso, estimado Dom Quixote de L Mancha.

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Margem

Lápis

Que é um lápis?

cona.

Vão chamado,

um tradutor,
uma ponte,
falo.
Chegança,
arma,
pensamento,
hora.

Distração.

Partida.
Encontro,

solitude.

Lápis, Página; palavra:

Imagine…

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Elogio da loucura

Certo rapaz de longos braços e barbas

viu qualquer coisa que nenhum mortal jamais

nem pressentiu ou saberá

pois o certo rapaz – que pena! – jamais

voltou para contar.

De Cacaso em Lero-Lero.

 

 

Imagem

Foto João Tempo

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Saída da Sala de Obras Gerais da FBN.

Um espaço belo de arquitetura clássica imperial por dentro e por fora. Com a maior parte de suas características arquitetônicas mantidas.

Ao longo do tempo esta linda casa agregou apenas alguns elementos modernos que seriam para facilitar a vida de leitores, estudiosos, pesquisadores e etc.

Tão belo o prédio, tão rico e sofisticado que nos embriaga de informações e prazer só de vê-lo. A este prédio foi da dada a função de guardar livros, periódicos, cartografias, iconografias, e mesmo acervos inteiros de gentes importantes aos interesses que mantém o Brasil na condição em que se encontra até hoje.

Outras de suas funções são oferecer, disponibilizar, promover o acervo e o acesso a esta fonte de informações, conhecimentos, diversões, pesquisas.

Sendo belo edifício, de ótima localização, acesso inigualável, com horário razoável para uso e visitação, chegou o prédio vivo no século XXI, onde inúmeros recursos técnicos e tecnológicos foram somados à sua estrutura procurando qualifica-lo para sua nobre tarefa. Especialmente, por estar numa que é uma das cidades onde se somam pelo menos três universidades federais e duas estaduais na sua zona metropolitana, também uma cidade onde se aloja boa parte dos recursos federais em cultura no Brasil, sobretudo comparado a regiões que nada ou quase nada recebem. Vejam o caso dos equipamentos públicos, como a Biblioteca Nacional, onde agora estou. E hoje é imperativo afirmar, sem pena de errar, que este lugar se tornou, já há algum tempo, o túmulo da leitura e da pesquisa no Brasil.

Insólitos e dedicados pesquisadores como eu, são, talvez, os únicos a frequentarem este mausoléu da leitura. Mesmo assim, é uma visita sadomasoquista, uma visita onde o sofrimento começa na decisão de ir ao lugar. Pois, no cemitério da leitura nacional tudo é precário, sofrível, lento, grosseiro, inútil e velho, ou mesmo, mórbido.

Estive nesta cripta em 2006 e 2007 para pesquisar e escrever minha dissertação de mestrado. Nada mudou, sendo mais preciso, conseguiram torná-la pior. Estou falando a partir do ano 2012, no inverno do mês de julho. Lá se vão então, pelo menos cinco anos desde a ultima vez em que pus meus pés nesta necrópole de livros.

Em poucas palavras, vejam só o que me ocorreu hoje, dia 09 de julho de 2012:

Almocei com amiga que está partindo de volta a Nova Zelândia, sua terra natal. Desci de Stª Teresa, contente de reencontrá-la e apreensivo de seguir logo após para a FBN (Fundação Biblioteca Nacional). Inclusive ninguém a conhece desta maneira, a chamam de Biblioteca Nacional, em geral os cariocas, filhos ou adotivos, sobretudo, quem não a usa recentemente. Pois, de fato, Nacional, está longe de ser, seja em catálogo de obras, ou seja, em formas de acesso.

Então, após um café em um dos meus prediletos Cafés no Rio, onde às vezes gasto meus parcos caraminguás quando estou pela Rua da Carioca, me dirigi com a amiga para deixa-la no nas escadarias do metrô da Carioca, onde nos despedimos e de onde parti muito vivo, acompanhando o féretro das minhas preocupações certas em direção a última morada infortuna da literatura nacional.

Ao chegar, me deparei com mais um brinquedinho novo comprado e instalado, em funcionamento pela última morada dos livros no Brasil: uma branquinha e pequena webcam. Uma funcionária terceirizada, que nos trata como se vendesse tomates na feira, pede deseducadamente para me fotografar, ao passo que eu, no susto, aceitei. Pois, antes mesmo disso, já havia me pedido documento de identificação com foto, e solicitado preenchimento de uma ficha para entrar com computador, cabo de força e um simples caderno de notas. Ficha esta, que eu deveria ir ao setor, no caso obras gerais, para pedir a autorização de entrada e uso. Bem, preenchida a ficha, fotografia registrada. Há! Tudo isso enquanto outra funcionária simpática e calada digitava meus dados pessoais num banco de dados qualquer. Que desconfio ser inútil, pois, já venho aqui há pelo menos seis anos, deveria haver um cadastro básico. Mas tudo bem! Tudo bem?

Vencido o primeiro obstáculo, me deparo com uma segurança e uma porta de meio metro, de vidro, com catraca eletrônica, quebrada, onde passo sem maiores atropelos, uffaa.

Sigo direto para o setor das obras gerais tentando ser rápido para ganhar mais tempo na leitura. Chego e sou rapidamente atendido pela bibliotecária responsável no momento.  Ela me comunica que não poderei trazer o cabo para energia, pois toda a rede elétrica da Fundação Biblioteca Nacional está instável, olho para os lados e vejo o equipamento de ar condicionado desligado, no lado oposto, encontro os velhos computadores de anos atrás funcionando no mesmo lugar. Aceito então entrar e trabalhar com a energia que tem na bateria do notebook que carrego.

Retorno então para o local onde guardei minha mochila e pertences, o n. 60. Opa, humm, quase esqueci, tive de passar por outro novo obstáculo, uma segunda segurança que me pede para mostrar a autorização que vim para assinar e carimbar. Mesmo estando sem um dos equipamentos autorizados em mãos. Admito então realizar mais este trabalho hercúleo para conquistar o direito de penetrar neste latifúndio mórbido de livros na América do Sul.

Saio, pego o notebook, o caderno de notas, um lápis, pois é proibido entrar com caneta, embora todos entrem e façam uso indiscriminado. Retornando ao setor obras gerais. Epa, preciso voltar a passar novamente por uma segurança, que já não é mais a mesma. Vejam vocês, dei a sorte de estar no momento da troca de equipes. Esta me exige a autorização assinada e carimbada, pede para abrir o caderno, pede para abrir o notebook. Após conferir superficialmente tudo isso, sigo a viagem, no corredor em direção às obras gerais, dois homens, magros, um miniatura e um outro salsichão guardam dois elevadores que dão acesso a outros setores da lúgubre bibliotequinha que possui apenas espasmos de vida.

Chego ao setor obras gerais com o sentimento que tudo acabou e agora cumprirei definitivamente aquilo para o que vim neste sítio de livros penados: pesquisar. Ledo engano, me dirijo aos computadores. Aqueles que já eram ultrapassados em 2006, e que hoje estão mais lentos que os cágados que meus pais criavam no quintal de casa, lá no meu amado e apaixonante sertão baiano, onde só tinha biblioteca na escola e também era muito parecida com esta que agora estou.

Mas não me deixo abater. Troco de computador, este cinco segundos mais rápido, consigo encontrar o livro em questão. Saio feliz e passo a ficha do pedido para o atendente terceirizado, por sinal bem gentil, mas incompetente.

Ora, pois, pensando que tudo terminara… Não! O gentil atendente incompetente me comunica que o livro chegará entre 20 e 30 minutos. Mais uma facada no tempo e um corte profundo no ímpeto do insólito pesquisador.

Escolho a mesa, e vou aguardar, abro o notebook e fico a aguardar. Um desejo que não é súbito, brota, é o desejo de escrever algo sobre esta viagem insólita ao mundo da pesquisa e da leitura na imperial, republicana, suntuosa e mórbida Fundação Biblioteca Nacional. Daí vou arrumando pastas de arquivos do computador. Lá vem o gentil incompetente terceirizado atendente me entregar o livro, agradeço desconfiado. Explico o desconfiado? O livro é de capa dura, uma obra nitidamente seme-rara, envolvida por uma tira de cartolina e amarrada, acreditem, amarrada por um barbante de algodão. É, meus amigos!

Abri o livro, que tinha como título: Manual de Enfermagem, publicado em meados do século XX. Eu tinha solicitado o título literatura e história no séc. XX, publicado agora no nosso jovem século XXI.

Sou paciente, levanto, vou ao balcão onde os coveiros habitualmente convivem com seus livros cadáveres insepultos e comunico que o livro não era aquele. O gentil incompetente atendente terceirizado pede que eu me recolha a mesa 12, pois ele irá consultar a bibliotecária responsável. Minutos depois, rapidamente, ele chega a minha mesa e informa que este livro está num anexo da Fundação Biblioteca Nacional e que devo fazer o pedido hoje, e amanhã, certamente após as 12 horas, estará a obra disponível para consulta. Até lá, diz o jovem constrangido: “se o senhor desejar pode pesquisar e solicitar outra obra, desculpe, obrigado.”

Neste exato momento, levanto a cabeça para enxergar o que acontece ao meu redor, e o salão de obras gerais, um dos maiores e mais confortáveis para dormir, como muitos o usam desde 2006, e sem surpresa continuam a usar hoje, está com seus três bibliotecários navegando no facebook. Sinal dos tempos amigo? Quais tempos?

Cheguei a Fundação Biblioteca Nacional, cripta mór da péssima administração pública na cultura nacional, digo quando se fala de leitura e literatura, de pesquisa científica e deleite de um leitor, entre as 16:00h e 16:30h.

Agora, a finalidade para a qual me dirigi a esta mausoléu de livros não existe mais como se realizar, e se tornou este texto que compartilho com um desavisado que passar por este nosso Algarobytes, e que se preocupe com a memória, a história, a literatura, o jornalismo, a cartografia, a iconografia contidas neste que é hoje o verdadeiro túmulo da leitura e da pesquisa, do gozo com o saber no Rio de Janeiro, no Brasil e na América do Sul.

Isto não é um conselho, é um aviso: não vá ao cemitério da leitura Fundação Biblioteca Nacional. Ou você pode desencarnar de tanto tentar ler, escrever, pesquisar, buscar o prazer com a leitura de um simples poema,  e não conseguir. Os sinos de uma igreja próxima tocaram, são exatamente 19 horas.

Você conhece a Fundação Biblioteca Nacional? Qual foi, é, sua experiência com a Fundação Biblioteca Nacional? Você já usou estes equipamentos de arquivo e promoção da leitura no Brasil? Como foi? Como poderia ser um lugar onde se guardam livros raros e livros comuns?

Tupã de Goiás

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